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Leitura de Imagem: Por Quê Deveríamos Aprender Isso?

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Luisa Mollo

Luisa Mollo

Cofundadora do blog, atua como designer há 10 anos e é graduada em Design Gráfico e em Design de Moda. Tem experiência com projetos de produção de moda, figurinismo, diagramação, criação de identidade visual, estamparia, criação de produtos, impressos e ilustração. É apaixonada por livros, por trabalhos manuais e por gatos.

A leitura de imagem não é algo que recebe investimento nas escolas, mas é algo muito importante para a construção da sociedade. Veja por quê! 

Ter dificuldade em interpretar uma imagem não é sinônimo de burrice, mas é de falta de conhecimento. Esse conhecimento não é passado nas escolas e não faz parte da nossa grade curricular assim como outros assuntos tão importantes para formação de cidadãos, mas juro que não vou falar sobre isso agora.

Quando eu estava no ensino médio, tive uma professora que em algumas aulas falava sobre história da arte. Eram aulas muito legais, mas não eram aprofundadas e nem seguiam uma cronologia linear. Quando eu tive a oportunidade de em um estágio compartilhar um pouco de conhecimento sobre a leitura de imagem com algumas pessoas, percebi que isso é um assunto que ou não é abordado ou é abordado de forma ineficaz nas escolas. Não deveria ser assunto pra curso superior apenas. Isso faria o mercado de design e de publicidade cada vez mais subir de nível e talvez não teríamos aquelas fórmulas que já cansaram o público consumidor (usar os mesmos artifícios, às vezes até ofensivos para chamar a atenção).

E a arte?

Quando falamos de leitura de imagens precisamos também fazer um link com a arte, mesmo que obras de arte não sejam as únicas imagens que devemos ler.

Paul Rand disse que a arte deveria estar no quarto, na cozinha, não apenas nos museus. A arte deveria estar acessível a todos, estar na nossa experiência cotidiana e a gente deveria saber aproveitar dela. Não ter acesso a arte faz com que nós não tenhamos a total noção dela, além de criar uma segregação entre as pessoas  que “entendem” e as que “não entendem” de arte, como se a arte fosse apenas para algumas pessoas. Restringir o público que terá acesso a arte cria uma nação que não valoriza nem a si próprio e nem a própria cultura – e isso é muito grave.

A relação distante que temos com a arte desde o ensino básico, atrapalha a criar senso crítico, limita a criatividade, nos impede de termos uma interpretação mais profunda das coisas ao nosso redor, faz as pessoas acreditarem que não são criativas, adormece a curiosidade, enfim. Se não temos o costume de perceber, ler, ouvir, ter acesso a arte no geral, perdemos a oportunidade de potencializar muito mais a construção crítica e compreensiva da população.

Muitas vezes a arte está tão longe da nossa vida que quando a estudamos, ao invés de irmos até onde ela está (já que ela está normalmente isolada no museu), vemos fotografias de quadros, esculturas, afrescos… E essas fotografias não são fieis a realidade, assim no mínimo perdemos as cores e  as texturas que teríamos como apreciar se estivéssemos analisando a obra de perto.

Pra quê eu preciso disso?

Saber interpretar imagens é algo que muda a forma de vermos a vida. É como se te colocassem um óculos para você ver as coisas muito melhor. Já falei um pouquinho ali em cima sobre isso, mas quando se trata principalmente de ensinar às crianças sobre todas as mil palavras que uma imagem pode valer, estamos falando de viabilizar a existência de uma população mais atenta, mais exigente, mais crítica, mais artística, mais política, enfim. Pode parecer besteira, mas o ensino de artes e de interpretação imagética pode proporcionar isso tudo às pessoas, pois arte é algo que é feito para fazer a gente sentir, indagar, enxergar por outro prisma, entende?

Além disso, a construção da estética que é possibilitada através do aprendizado de leitura de imagem não serve para dizer se algo é bonito ou bom – isso seria extremamente pessoal e nem é sempre um julgamento produtivo. Mas aprender sobre a estética direciona a compreensão do texto que uma imagem transmite, se ela faz referência a algum período histórico, ou a algum acontecimento, ou a alguém importante em um contexto específico.

Como que se lê uma imagem, então, pelamooor?

Primeiramente, quero que todos saibam que eu sou apenas uma curiosa no assunto, mas tem uma escritora massa maravilhosa fodarástica que tem um livro específico que fala só sobre isso e eu sugiro fortemente que você tenha esse livro pra você, se chama Imagem Também Se Lê e é da Sandra Ramalho e Oliveira.

Nesse livro ela faz toda preparação necessária pra entrar no exercício da leitura de imagem, mas espero que se um dia ela ver isso ela não fique chateada vou dar uma indicação bem de leve e resumida de como fazer isso.

Primeiro: observação macro – olhe toda a imagem e determine linha(s) que direcionam seus olhos. Perceba se a imagem tem algum tipo de estrutura como eixos, formas geométricas linhas paralelas ou que se cruzam, pontos de atenção.

Segundo: analise o que constrói a imagem. Texturas, cores, formas, luz e sombra, material feito etc.

Terceiro: como isso tudo está organizado? Tente cruzar as informações obtidas, visite e revisite o seu olhar macro e micro. Quando olhamos uma coisa duas, três, quatro vezes, a cada vez percebemos novidades na imagem.

Quem produziu a imagem está em um contexto, compreende o mundo da forma dele e tudo mais. A partir desse pensamento, podemos imaginar que algumas dessas coisas vão estar explícitas na imagem, porém, não quer dizer que todos vão compreender da mesma forma. A imagem vai falar por si só para cada ouvinte 🙂

Resumindo…

Basicamente, é necessário que olhemos a imagem e gastemos tempo pra interpretar, olhar e reolhar pra compreendermos ela ao máximo possível. Identificar por exemplo as cores – se tem um azul, se é um azul claro ou escuro, a que cada um pode remeter no enquadramento que está; se tem uma forma, digamos, um triângulo, por quê ele está posicionado onde está, qual a cor dele, se tem textura, se tem contorno, qual a cor do contorno; na totalidade da imagem, por quê meus olhos vão direto para o ponto que vão, por onde eles percorrem antes de chegar lá, qual o sentido que é percorrido, qual o formato da imagem, existe uma moldura, existe espaço em branco etc.

É importante ter informações como período histórico da imagem, autor, país de origem, tipo de mídia, enfim… mas isso é um passo a mais do que só chegar a uma imagem e falar/sentir tudo que você pode dela e com ela.

Essa parte do livro fala muito bem sobre isso:

“O acesso às imagens estéticas não é, de modo algum, um processo simples; talvez seja tão complexo quanto o universo mesmo dos produtos visuais. O que se propõe é um referencial mínimo para a leitura da imagem; parâmetros passíveis de utilização na leitura de diversas imagens; uma abordagem que oriente para um modo de ver diferente do habitual; uma estrutura básica a ser guarnecida com outros conhecimentos, tanto os já trazidos na bagagem do leitor, quanto aqueles que ele se sentirá instigado a buscar a partir da provocação proposta pelo texto estético diante de si.”

Imagem também se lê – Sandra Ramalho e Oliveira

Conclusão

A leitura de imagens desde o início da nossa vida é muito importante. Crianças, mesmo não tendo sido alfabetizadas, conseguem absorver uma história inteira através da interpretação das imagens.

Quer ajudar às crianças a sua volta a terem um potencial criativo maior, pra um futuro melhor, que sabe pensar, compreender e criticar as coisas? Além de muito amor, carinho, empatia, colo e diálogo, as crianças precisam ser incentivadas e precisam sentir que você está junto delas. Se você tiver filhos ou sobrinhos, existem alguns exercícios legais que podem ser feitos:

  1.  Leia junto com eles uma historinha, depois peça pra eles desenharem do jeito que eles entenderam. Depois eles falam se gostaram ou não da história.
  2. Use um livro ilustrado ou uma revista em quadrinhos. Peça para a criança te contar a história sem ler o texto – isso é ótimo para as que ainda não sabem ler, você vai ver que dá pra entender muita coisa sem ter textos verbais.
  3. Façam recortes de revistas e colem, façam uma composição bem doida! Depois construam uma narrativa para essa imagem que vocês criaram a partir de outras imagens.

No mais, para um escritor ser bom, ele precisa gostar de ler, certo? Ler muito para escrever bem. O mesmo vale para a produção de imagens. Desenvolver o hábito de analisar imagens, vai fazer você produzir melhor; é um exercício 🙂

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